terça-feira, 12 de abril de 2011

VINICIUS DE MORAES

Vinicius de Moraes, o maior poeta brasileiro, me foi apresentado em 1995/96 por uma pessoa que estimo muito. Destes dias em diante, confesso a todos, minha vida não foi a mesma. Nunca ouvi música tão linda ou li poema que me fezessem refletir tanto a minha própria vida. Vinicius casou-se 9 vezes, um amante profissional, diriam alguns. Suas parcerias com a música também seriam eternizadas, parceiros como Tom Jobim, Carlos Lyra, Baden Powell, Toquinho, Edu Lobo, Francis Hime e Chico Buarque, seriam aqueles eternizados e e que eternizariam Vinicius de Moraes. Uma época de grande transformação política no Brasil, Vinicius iria transformar a música, com a Bossa Nova ritmo que viria ser lembrado em todos os tempos com a música CHEGA DE SAUDADE.
Não sou muito bom em história e também sou suspeito quando falo do Vinicius, me tornei um viciado nas músicas dele por culpa desta pessoa que foi tão especial para mim na época em que o Poetinha me foi apresentado (esta pessoa ainda é muito especial).
Agora eu deixo aqui um dos maiores e mais lindos textos já escritos por Vinicius de Moraes, não menosprezando todos os outros textos, poemas, crônicas, sonetos e músicas escritas por ele, mas este aqui merece um minuto da nossa atenção.


PARA VIVER UM GRANDE AMOR

Para viver um grande amor, preciso é muita concentração e muito siso, muita seriedade e pouco riso — para viver um grande amor.

Para viver um grande amor, mister é ser um homem de uma só mulher; pois ser de muitas, poxa! é de colher... — não tem nenhum valor.

Para viver um grande amor, primeiro é preciso sagrar-se cavalheiro e ser de sua dama por inteiro — seja lá como for. Há que fazer do corpo uma morada onde clausure-se a mulher amada e postar-se de fora com uma espada — para viver um grande amor.

Para viver um grande amor, vos digo, é preciso atenção como o "velho amigo", que porque é só vos quer sempre consigo para iludir o grande amor. É preciso muitíssimo cuidado com quem quer que não esteja apaixonado, pois quem não está, está sempre preparado pra chatear o grande amor.

Para viver um amor, na realidade, há que compenetrar-se da verdade de que não existe amor sem fidelidade — para viver um grande amor. Pois quem trai seu amor por vanidade é um desconhecedor da liberdade, dessa imensa, indizível liberdade que traz um só amor.

Para viver um grande amor, il faut além de fiel, ser bem conhecedor de arte culinária e de judô — para viver um grande amor.

Para viver um grande amor perfeito, não basta ser apenas bom sujeito; é preciso também ter muito peito — peito de remador. É preciso olhar sempre a bem-amada como a sua primeira namorada e sua viúva também, amortalhada no seu finado amor.

É muito necessário ter em vista um crédito de rosas no florista — muito mais, muito mais que na modista! — para aprazer ao grande amor. Pois do que o grande amor quer saber mesmo, é de amor, é de amor, de amor a esmo; depois, um tutuzinho com torresmo conta ponto a favor...

Conta ponto saber fazer coisinhas: ovos mexidos, camarões, sopinhas, molhos, strogonoffs — comidinhas para depois do amor. E o que há de melhor que ir pra cozinha e preparar com amor uma galinha com uma rica e gostosa farofinha, para o seu grande amor?

Para viver um grande amor é muito, muito importante viver sempre junto e até ser, se possível, um só defunto — pra não morrer de dor. É preciso um cuidado permanente não só com o corpo mas também com a mente, pois qualquer "baixo" seu, a amada sente — e esfria um pouco o amor. Há que ser bem cortês sem cortesia; doce e conciliador sem covardia; saber ganhar dinheiro com poesia — para viver um grande amor.

É preciso saber tomar uísque (com o mau bebedor nunca se arrisque!) e ser impermeável ao diz-que-diz-que — que não quer nada com o amor.

Mas tudo isso não adianta nada, se nesta selva oscura e desvairada não se souber achar a bem-amada — para viver um grande amor.

Texto extraído do livro "Para Viver Um Grande Amor", José Olympio Editora - Rio de Janeiro, 1984, pág. 130.

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